quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Tecnologia: razões e emoções (By Nizi Silveira).

Sim: tecnologia. Tema sugerido pelo leitor Anônimo (as usual).




O redemoinho gerado pela tecnologia deglute a tudo - o improvável de ontem é a realidade palpável (e, muitas vezes, inviável) de amanhã. Ironicamente, a vida nunca fica fácil. A velha Olivetti se foi, mas continuo digitando. Talvez seja este o real propósito: fazer-nos ignorar ou esquecer que tudo permanece do mesmo jeito de sempre. Dissimular a inexistência do Papai Noel aumentando o número de curvas dos autoramas, e a inexistência do Coelho da Páscoa trufando (*do nunca antes conjugado verbo “trufar”) o chocolate amargo.

Ainda assim, nutro um amor platônico pela tecnologia; um amor que consiste tão-somente na distante (e segura) contemplação. A indústria nunca colocará no mercado aparato capaz de me fazer madrugar na porta de uma loja, ou cafetinar uma tia-avó para adquiri-lo. O tal conceito publicitário “call to action”, que consiste em não poupar esforços para instaurar ou despertar o ímpeto consumista no populacho, e que é exaustivamente proferido por inúmeros colegas de profissão que adoram estender o vocabulário com estrangeirismos cretinos, não surte o menor efeito em mim. Chorem: o “fogo no rabo” alheio não me queima, apenas me bronzeia. Um pouco. Bem pouco.

Eis o que realmente penso da tecnologia: ela é mediocremente fascinante. Pode desempenhar diversas funções simultaneamente (não sendo nenhuma delas realmente necessária, verdade seja dita), e, no entanto, ter como regente alguém tão limitado como eu. Seria como desembolsar mensalmente polpudas somas para custear os estudos de uma filha no exterior e, posteriormente, vê-la aos amassos com alguém do Piauí, que ainda ontem levava uma cabra ao êxtase. Demasiado desgosto para um pai, demasiado desgosto para um I-phone. E demasiadas sensações incompreensíveis para uma pobre cabra.

Porém, apesar dos supra-sumos tecnológicos contemporâneos ainda não serem capazes de simular emoções (pelo menos nada digno de um Oscar, embora muito radar de trânsito atue melhor que o Ben Affleck), já não é absurdo imaginar aparelhos cuja inteligência artificial seria complementada por consciência artificial.

Celulares que dariam legítimas aulas de cidadania, bom-gosto e do mais elementar bom-senso ao seu dono, reprovando o conteúdo de certas conversações e seu desenrolar, recusando-se a tocar funk, e alertando-o nas ocasiões em que estiver agindo feito idiota - ou pior.

Combinar um assalto, ameaçar alguém de morte, ou, pasmem, elogiar o PT, culminaria no súbito encerramento da ligação. Já televisores dotados de consciência artificial chuviscariam intencionalmente sobre a imagem, cada vez que atrações da Tv aberta (e, claro, propagandas do PT) fossem irradiadas. A exasperação do espectador logo seria substituída pela nostalgia: recordaria dos incontáveis chumaços de Bombril que espetava no topo da antena da jurássica Sharp 1987, aquela pérola fabricada numa época em que a vida era exatamente a mesma coisa que é hoje. Ah, saudade...

(*Indispensável dizer que aparatos dotados de consciência artificial dificilmente fariam sucesso no nicho de mercado ocupado por socialites cariocas, pois as constrangeriam com frequência superior à freqüência em que elas constrangem a si próprias. E aos outros).

Eu, que em dias bons reconheço-me meramente como um Tamagochi pendurado (e ignorado) no largo e vascularizado pescoço de Deus, concluo aqui meu pequeno tributo à tecnologia. Com meus 27 anos completados automaticamente (e, portanto, sem o meu consentimento prévio) semanas atrás, percebo, apesar dos pesares, que somos sim dominados e constantemente superados pelas máquinas, porquanto estas possuem inacreditável potencial para realizar diversas tarefas tão pouco significativas no decorrer de poucos minutos ou segundos, enquanto a maioria de nós, seus exigentes proprietários, consumimos nossas vidas inteiras sendo pouco significativos, realizando o pouco profícuo, e, ainda por cima, esquecendo tudo com o tempo. Ora, não demoro mais que cinco minutos para perceber que uma câmera digital é inútil, mas já demorei anos para perceber o quão dispensáveis são certas companhias (sobretudo as que possuem câmeras digitais). E melhor nem mencionar a quantidade assustadora de robozinhos que, com apenas duas pilhas alcalinas (e não contas de bar de R$300,00), me superam em dança, carisma e entretenimento de uma só vez...

Sim, o mediocremente fascinante sendo alvo de inveja do fascinantemente medíocre – Eu.

Não: Nós.



Status – Ok! Ausente por uns tempos.

Lendo: “Os Maias – volume 1” (Eça de Queiroz). Faltando poucas páginas...

Recomendado – O livro “Cassino Royale” (Ian Fleming). Primeira aventura do agente 007.

Recomendado – Funny stuff!

https://www.youtube.com/watch?v=qk2RWNIWY1o

Escutando – Hoje, mais alguns lançamentos do ano passado (só postagens inéditas):

Abertura do sensacional DVD lançado no começo do ano passado. Eu? Comprei, evidentemente; louvemos estes lendários cinquentões (quase sessentões):

https://www.youtube.com/watch?v=diIbr_3Aq-E

Do último cd:

https://www.youtube.com/watch?v=t0OdRDWtyF0

Another kick-ass tune from “The eletric Age”:

https://www.youtube.com/watch?v=y47qEIyzVFo

...e concluindo com mais duas baladinhas do segundo melhor CD de 2012:

https://www.youtube.com/watch?v=Vl_bU776Gyk

https://www.youtube.com/watch?v=nAaXiSK2WFk





PS – Sobre o carnaval: impressionante constatar que a mesma multidão que é capaz de tudo pela possessão dos aparatos tecnológicos mais sofisticados é igualmente capaz de ovacionar carros toscos de arame e papel crepom que, por sua vez, parecem confecções de crianças em idade escolar. U-A-U. (by N.S).

PS – Após a tragédia ocorrida na cidade de Santa Maria, sinto-me no deve de repetir: O maior sonho do meu cigarro é ser tão benéfico e inofensivo quanto os fogos de artifício que são vendidos indiscriminadamente. “Fumar em ambiente fechado? De jeito nenhum. Acender varas recheadas de pólvora num ambiente fechado? Só se for agora”.

PSUm slogan (by me): UFC – transformando Severinos em Minotauros desde 1988.

PSFato: ser “auxiliar de serviços gerais” é garantia de morrer de forma escrota (By N.S).

PS – Idéia revolucionária (by me): Um simulador de touradas que exploraria a tecnologia de captura de movimentos, presente nos consoles domésticos atuais.

PSFato: nunca entenderei funkeiras que agradecem a Deus e não à degradação a qual se submetem em prol do (pseudo) sucesso. E tudo isso visando atiçar a libido d’algum sósia do Champinha... Gratificante é pouco (By N.S).

PS – “KISS: Hotter than hell”. Acabo não só de mencionar o título do segundo álbum da banda que mudou minha vida, como também de fazer um trocadilho de extremo mau-gosto com a tragédia ocorrida em Santa Maria (by N.S).

PSFato: adoro desodorantes de efeito prolongado. Não sei se estarei vivo em 48 horas, mas se estiver, meu sovaco estará maravilhoso (By N.S).

PS – Meu lado feminino disse que não daria pra mim nem fo-den-do (By N.S).

PS – Ontem pensei ter encontrado um sinal de vida inteligente no planeta Terra. Engano: era apenas o som de minha própria voz em discussão com outro brasileiro de 27 anos (By N.S).

PSUma meta: dirigir um filme de PVC (By Nizi Silveira).

PS – Um slogan (by me): “Vá pro inferno com Decolar-ponto-cão”.

PS – Um slogan (by me): “Devassa” – Ô cervejinha vagabunda...

PSFato: Não creio que homossexualidade seja doença, embora travestis e transexuais existam tão-somente para convencer-me do contrário (By N.S).

PS – Acredite se quiser: este blog já teve 30.000 acessos. Ou seja: dá para lotar o estádio do Pacaembu com várias réplicas das mesmas 3 pessoas que o acessa (By N.S).

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sensacional post. Já patenteou suas idéias?

Um tema: videogames.
Abraço!

2:55 PM  

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