segunda-feira, dezembro 13, 2010

“Março” – A Nonsense chronicle (Created and written By Nizi Silveira).

NOTA- Há tempos não escrevo nada 100% nonsense neste blog. Bem, é chegada a hora.
Vale lembrar que este e muitos outros estão presentes no meu primeiro livro, intitulado “As I lay down with Ron Jeremy” (ou “Lá bemol e as ceifadeiras dos seus cabelos”, nos Eua), à venda nas melhores livrarias em edição pocket e/ou capa-dura. Na edição de capa-dura o título muda para “Cofee, rolling thunders and busted personel” (ou “Queijadinhas renascentistas e seus visigodos insones”, nos Eua).

Enjoy it (e leia rápido, de preferência).




Ricardo Fernandes analisava toda e qualquer situação com a destreza de quem remove pomada de arnica da ferida purulenta do antebraço de um cunhado eslovaco numa das muitas tardes ensolaradas de março. Coincidentemente, esta era uma delas.
Sua esposa, Maria Joana, herdeira de muitos hectares de terra batida na periferia de Bertioga, perambulava pelos quatro cantos da casa, envolta em mistério e papel camurça azul-marinho. Sobre o papel camurça, justificava-se dizendo em tom austero: “é porque dá vontade de arranhar, né, querido...”.
Dorival da peixaria não resistia ao ver Maria Joana descendo a ladeira, com a sapatilha de cobre polido, fragmentos do fêmur de Ulisses Guimarães adornando-lhe as sobrancelhas e as genitais, e assoviando antigos sucessos de Jerry Adriani. Com ares de canastrão, ofertava-lhe desde sardinha à paz mundial, ainda que ela aceitasse apenas o usual: três quilos de paz mundial - e sem espinhos, de preferência.
Há muito desconfiava da relação da mulher com o peixeiro. Quando a janta acabava, o mundo continuava em guerra. Não apreciava o aroma de lavanda que os peixes exalavam, e tampouco tinha paciência para com os trocadilhos de Dorival:
Muito 1963 pro meu gosto” – dizia, enquanto espetava a laringe com uma agulha de tricô mentolada, tal como fez Heitor, O benemérito, séculos antes, durante a libertação da Moldávia.

Temendo pela própria vida, em meados de 82, Dorival mudou de profissão. Começou a vender abraços. Quem comprasse um por trezentos mil, ganhava gratuitamente um Porsche Carrera Turbo. Muitos anos mais tarde, seria classificado pela revista Forbes como o executivo mais carinhoso e bem-sucedido do século. Morreu de tendinite no ano passado.
Contando com uma vasta lista de problemas pessoais do caso reto e oblíquo, Ricardo Fernandes finalmente entrou para o E.R.R.A (Estapeadores de Rádio-Relógio Anônimos), visando perder esta sua antiga e desagradável mania, que tanto assustava as inocentes doninhas desavisadas que sobrevoavam os pântanos, com tampas de garrafas Pet presas ao bico. Alcançou tamanho êxito na empreitada, que, em míseros dois meses, parou de estapear o rádio-relógio, e passou a estapear a esposa.

“Bom, menos mau” – disse seu médico, um verdadeiro acadêmico do Salgueiro, quando soube da boa-nova. Congratulou seu paciente enviando-lhe uma cesta repleta de objetos pontiagudos e cortantes fabricados em inox. Acompanhando a cesta, uma nota onde se lia:
Talvez ajude.
Eternamente seu,
Médico
”.


Maria Joana, já com o rosto parcialmente desfigurado pelos constantes tapas, exteriorizava a felicidade dando pulos exagerados em sofás com estampa floral, e arremessando lamparinas de querosene contra pilhas de feno e idosos estrábicos da Praça Cornélia. Comprou um pôster autografado por Quintino Bocaiúva 632, o qual mimava com óleo de peroba às quartas e sextas, e furou o globo ocular esquerdo com um vistoso estilete, visando evitar o mau-olhado. Engarrafava o pus que lhe escorria sobre o pescoço, e utilizava-o para alimentar alguns órfãos do sudeste asiático, que dormiam ao som de lindas sonatas executadas com o auxílio da campainha da porta da vizinha.
Aliás, que vizinha...
Grande e desajeitada; usava um espécime raro de taturana africana sobre a boca para simular um bigode, e gostava de ser chamada de Doutor Medeiros.
Que mulher...
Suddenly, o rosto desfigurado de Maria Joana não mais surtia efeito nos homens da região. Todos queriam Doutor Medeiros, com sua saia rodada, suas meias repletas de pequenos desenhos de cefalópodes, sua bengala de madrepérola, os pêlos grisalhos que pendiam de suas axilas, e sua conhecida arritmia cardíaca, que lhe fazia desmaiar todos os sábados, das 14:35 às 15:27, com uma pontualidade britânica.
Impressionado com a beleza de Doutor Medeiros, excitado com a rigidez de suas ancas e sua sensualidade latente, Ricardo Fernandes se masturbava enquanto vendia a mobília.
Quando interrompido pela esposa, enervava-se a ponto de beijá-la, e ameaçava cortar a verba que destinava à compra de óleo de peroba para o pôster de Quintino Bocaiúva, 632.
Vendo o estado do marido (sólido), Maria Joana passou a orar àquele profeta que, há muitos milênios atrás, serviu pilhas alcalinas aos apóstolos, e lhes disse:
“Comam, pois este é o meu corpo”.
Os apóstolos mais devotos morreram; os menos devotos pediram a conta, foram embora, e hoje moram em suntuosas coberturas em Ômegaville, a Alphaville dos ricos que vestem túnica.

Doutor Medeiros, provocante como sempre, untava batentes de porta com cream-cheese, não tendo nada além de uma folha de palmeira para lhe cobrir as redundâncias. Num discreto e romântico jantar à luz de velas de filtro, cedeu à proposta feita por Ricardo Fernandes, que lhe mordiscava o queixo e dizia-lhe coisas indecorosas, num tom provocante:

Você gosta disso, vagabunda?

...e doutor Medeiros concordava com a cabeça, e dizia:

Sim, sim. Evidente”.

Não mais passava tempo com sua esposa que tanto empenho teve em desfigurar-se para agradá-lo. A prestativa esposa que lhe salgava o café todas as manhãs, e que emparedou o primogênito durante a exibição de um jogo do 15 de Jaú.
Ricardo Fernandes entregou-se aos prazeres do sexo extraconjugal. Lambia o teorema de Pitágoras que Doutor Medeiros tinha tatuado na nuca, e que era encoberto pelo colar de pérolas. Nus, trocavam juras de amor eterno, figurinhas do álbum da Copa, e teses behavioristas.

Promete que vai me amar para sempre?”.

...e doutor Medeiros concordava com a cabeça, e dizia:

Sim, sim. Evidente”.

Desamparada, solitária e melancólica, Maria Joana pagou com balas cítricas o melhor mestre-de-obras da região para que lhe construísse um telhado, visando atirar-se por de cima dele. O suicídio efetuou-se em 93. Ainda me recordo do alvoroço: uma sucessão de “puta que o pariu” em tom de pura inconformidade ressoava, abafando o canto dos canários belgas. No velório, água gaseificada, polenta aperitivo, e freqüentes críticas ao despótico governo Guatemalteco - aliás, adoro esta palavra. Sempre adorei.

Há muitas milhas dali, Ricardo Fernandes e Doutor Medeiros levavam uma vida incrível, porém, feliz. Abriram uma mercearia apenas pelo prazer de fechá-la juntos; durou pouco mais de 2 minutos. Ambos largaram o cigarro para ver se o maço era capaz de pular quando em atrito com a calçada. Era sim.
Regurgitavam risoto para armazenar no bolso interno de seus respectivos paletós – bem ao lado do coração. Escatologias que constam nos melhores e mais duradouros romances.

Quando uma crise de arritmia cardíaca vitimou fatalmente Doutor Medeiros, em 99, Ricardo Fernandes se transformou no mais infeliz dos homens. Contatou seu antigo médico, visando desvencilhar-se da intensa depressão, e este lhe enviou uma cesta repleta de rádios-relógio. Acompanhando a cesta, a seguinte nota:

Talvez ajude. Todos eles estão precisando de alguns tapinhas...
Eternamente seu,
Médico
”.

Deste dia em diante, Ricardo Fernandes analisava toda e qualquer situação com a destreza de quem remove pomada de arnica da ferida purulenta do antebraço de um cunhado eslovaco numa das muitas tardes ensolaradas de março. Coincidentemente, esta era outra delas.

...e guardo este memorando dentro de uma imensa gaveta onde se lê, cunhada em metal, a palavra “Março”.


Status- Ok! Saudades do Lu, do Ju, do Arthur, da Kátia, da Bebel, do pessoal da facool, e da professora Karina (*e suspiro apaixonado por 797 vezes consecutivas. Ou talvez seja bronquite asmática). Mudei meu perfil do Orkut - tô exausto.
Escutando- Uma das maiores e mais influentes bandas de heavy metal da história (35 anos de carreira, mais de 100 milhões de discos vendidos), que, infelizmente, irá pendurar os coturnos em 2011...bem, como o natal se avizinha, uma música apropriada:

http://www.youtube.com/watch?v=tcdJcrGJ97M

(calma...é brincadeira...hehe).

...e uma baladinha sensacional deste mesmo maravilhoso cd (um dos melhores da carreira deles, na minha modesta opinião. Minha irmã adora esta música...):

http://www.youtube.com/watch?v=F7mQp7oAjm4&feature=related




PS- Guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco, guatemalteco...pronto; satisfeito.
PS2- Querido Nizi, existe uma grande probabilidade destes seus supostos suspiros apaixonados serem, in factum, crises de bronquite asmática. Apareça em meu consultório o quanto antes para um check-up.
Eternamente seu,
Médico.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A única coisa que passa pela cabeça do Natal é se avizinhar. Já eu estou amigado com o Dia da Consciência Negra.

Ah, a prosa modernista...

2:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

AH VÁ,rsrsrsrsrs

11:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

Onde eu assino?

12:51 PM  
Anonymous Nizi Silveira said...

Você me faz lembrar dos membros da Associação Internacional dos Viúvos Canalhas da Vila Ipojuca. Bom, mas aí já é outra história.

10:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ah, então lembra-te? Bons tempos onde o ouro era vendido em tonéis de latão com inscrições cirílicas. E tudo que fazíamos para passar o dia era acreditar em Vasques, o catalão que tinha acessos de sensatez quando lembrava-se do filho que nunca teve. E como ria o desgraçado.

1:48 PM  
Anonymous Nizi said...

...não fosse um argelino imberbe dissuadí-lo, até hoje estaria extraindo coppertone das costas dos banhistas de Barra Bonita. Menos mau.

12:41 PM  

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