segunda-feira, fevereiro 22, 2016

PARTE 3 - Incoerência ou morte (Created and written By Nizi Silveira).

A noite prosseguia. Foi a vez de Bartolomeu, um ex-militar, figura tão incoerente quanto sua própria aparência sugeria (era careca e hirsuto), subir ao palco e discursar àquela multidão, já padecendo com o sono e o excesso de biscoitos amanteigados (embalados individualmente):

-“Tenho mais de três décadas de serviços dedicados às já extintas Forças Armadas Brasileiras. Como sabem, o exército brasileiro sempre careceu imensamente de equipamentos, armas e munição. Por isso, treinávamos diariamente e lavávamos nossas fardas com o novo amaciante Confort; queríamos estar preparados para o dia da invasão americana. Ansiávamos por este dia em que, estando totalmente desarmados, rechaçaríamos nossos inimigos bombardeando-os com bolas de papel, copos descartáveis amassados, cantando músicas americanas com uma pronúncia horripilante, cegando-os com o brilho de nossas fardas e intimidando-os com demonstrações de flexibilidade corporal. Isso os pegaria desprevenidos. E, de fato, os pegou. Muitos de nossos homens foram abatidos, já durante as primeiras horas da invasão, enquanto corriam intrépidos, limpinhos e desarmados em direção ao invasor. Que estes heróis caídos sejam para sempre lembrados pelos imprescindíveis serviços prestados à pátria e, acima de tudo, pelo inconfundível cheirinho de bebê que emanavam.

Portanto, esta noite, estou aqui para tranquilizar-vos, caros compatriotas. Saibam que, caso a guerra recomece, os membros remanescentes do Exército Brasileiro estão preparados para correr. E correrão, mais que qualquer fera africana, mais que qualquer máquina motorizada produzida por nossos algozes! Correrão de peito estufado, entoando com orgulho ímpar o sagrado hino desta Pátria amada, embora não armada, enquanto se refugiam em abrigos subterrâneos, que já foram devidamente abastecidos com toneladas de fraldas descartáveis, terços bizantinos, imagens de Santo Expedito, barris com chá de camomila e livros para colorir. Por último, sinto-me na obrigação de mandar um beijo para o grande amor da minha vida. Marcos, morzão, te amo”.

Aplausos e ovações. Um senhor afro-descendente, professor de história da USP, e um dos fundadores da F.N.C.C (Frente Nacional de Combate à Coerência), tomou a palavra:

-“Estes invasores bárbaros fazem troça do passado glorioso deste País! Americanos ignorantes! Será que não sabem dos abusos cometidos pela realeza portuguesa? Será que desconhecem o longo período em que permanecemos sob ditadura? Acham que nada disso é motivo para orgulho? Acham que a cultura africana é obsoleta e inútil? Americanos racistas! Só porque a cultura africana jamais trouxe qualquer tipo de benefício aos povos africanos? Só porque ela consiste basicamente em batucar pelado, comer as piores partes do porco, e invocar demônios primitivos? E desde quando a cultura precisa produzir bons resultados? Saibam, monstros americanos, que foi graças à maravilhosa cultura africana que o negro foi escravizado e visto como um animal! Acham também que a opressão branca contra os povos negros é um exagero?  Posso saber o porquê? Só porque os escravos negros eram vendidos por líderes tribais negros? É por isso? Ou seria porque os maiores assassinos dos negros foram ditadores negros, como, por exemplo, Papa Doc? Sim, eu sou um professor; sou um homem das Letras, um homem bem informado. Apenas não tenho tempo para esta abominação, esta inverossimilhança, este vírus chamado Coerência!”.     
O professor desceu do palco e retornou à sua cadeira, onde cochilou por meia hora. Sonhou que um negro analisava seus dentes, enquanto o negociava a um navegador português. Acordou vinte minutos depois, revigorado, sorridente – e cheio de injustificável orgulho.

CONTINUA...

Status- I need a better job. Tired’n bored. Missing my eternal love Juliana Bernadino...snif.
Lendo“Aforismos” (Hipócrates).
Recomendado – O clássico literário/filosófico“Sobre o riso e a loucura” (Hipócrates, o patriarca da medicina). Sem dúvidas, eu sou o Demócrates do século XXI.
Recomendado – Two great tributes to one of the greatest pro-wrestlers of all time, the man they call...Sting (finally retiring in 2016):

https://www.youtube.com/watch?v=lQW2I2K-mvA

https://www.youtube.com/watch?v=RseZppo_hzY

 Escutando – Yup... time 4 a musical mix (today’s menu: 80’s hard-rock classics):

Gonna kick-off with an awesome one. Miss the Bon Jovi from the early days. One of my favorite hard-rock tunes of all time:

https://www.youtube.com/watch?v=EhjSzibOIH4

THE glam-rock anthem:

https://www.youtube.com/watch?v=wiaPEmn6Ycg

One of the kings of shred-guitar, Mister (or should I say “Miss”?) Vinnie Vincent (ex-Kiss), long-time missing:

https://www.youtube.com/watch?v=qS8PMYy1CLM

...and a ballad:

https://www.youtube.com/watch?v=3WAZ60xA9wo

PS - Idéia revolucionária (By N.S): Um site governamental que fornecesse explicações/justificativas lógicas para cada decisão tomada por nossos governantes (o que diminuiria o índice de rejeição de tais decisões por parte do povo). EX: “Proibiremos os Pancadões de rua pelos seguintes motivos...”.
PS - Perceba: Se você não toparia entrar numa balada totalmente vazia, é porque não gosta de baladas tanto quanto imagina. Gosta apenas porque os outros gostam, Zé-povinho (By N.S).
PS – Clique AQUI para eliminar sistematicamente indivíduos cujo conhecimento se resume a Domingão do Faustão e jogos de bola. Salve o planeta (By N.S).



quarta-feira, fevereiro 10, 2016

PARTE 2 - Noite no galpão (Created and written By Nizi Silveira)

- Abaixo, a continuação oficial (*recuse continuações pirateadas) do post anterior, o épico post/série “Incoerência ou morte”, que já considero como o melhor post da HISTÓRIA deste blog.

 Capítulo 2: Noite no galpão.

Os depoimentos por mim registrados durante a Marcha Contra a Coerência foram tão preciosos aos membros da Resistência brasileira, que faziam até os mamilos cunhados na armadura do Batman, aquele interpretado por George Clooney em 1998, parecerem uma tremenda banalidade. Estes mesmos membros da resistência contra o temível (e racional) invasor norte-americano me convidaram para uma reunião secreta, realizada num galpão pintado com cores berrantes, em plena Rua Augusta, um dos locais mais “low-profile” de São Paulo.

Não querendo desagradar meus anfitriões, vesti-me adequadamente para a ocasião (smoking, bermuda de estampa floral, chapéu de palha, tênis e chinelo). Estaciono meu patinete na vaga exclusiva para incoerentes (ou “Deficientes”, pois dá no mesmo), aproximo-me do portão enferrujado do galpão, profiro a senha secreta (“Incoerência ou morte”), e adentro o recinto.

Deparo-me com uma multidão composta por gente de todas as classes sociais, raças e descrenças (afinal, é preciso coerência para justificar uma crença), cada qual discutindo, com argumentos vagos e imprecisos, coisas de pouca ou nenhuma importância, dando vazão assim à sua brasilidade.

 Posicionei-me frente ao palco improvisado, visando não perder nenhuma afirmação inexata, nenhuma sentença inverossímil, destas que consagram os melhores e mais longevos papos entre brasileiros. Um certo Senhor Ernandes, ungido em gordura suína, entrou no palco dando cambalhotas, agarrou o microfone, e deu início aos discursos da noite:

-“Brasileiros! Brasileiros deste meu Brasil! (*interrompeu-se brevemente para pedir perdão pela coerência que demonstrou ao dar a entender que “brasileiro” é alguém nascido no Brasil). Todos nós sabemos bem o que é um norte-americano. É um covarde que invade o país dos outros, para, em seguida, assassinar tiranos genocidas que atentam contra sua própria gente. A América do norte, meus amigos, é um celeiro de canalhas que concede asilo a refugiados que, por sua vez, elegeram democraticamente tiranos genocidas que atentam contra suas próprias vidas. Eles, os ianques, tentam salvar o mundo da incoerência e seus efeitos! Como ousam?

A multidão parecia inebriada com as palavras duras do Sr Ernandes, embora fosse possível ouvir, aqui e ali, o murmúrio de alguns indivíduos que estavam mais entretidos em discussões sobre hits do carnaval baiano de 1987, marcas de geladeira, e a recente contratação de Danonilçom pelo Palmeiras. O Sr Ernandes continuou:

-“Eles, os americanos, proibirão em breve os jogos de futebol em todo o território nacional. Disseram que, em pleno século XXI, é um absurdo ficar empolgado vendo gente correr atrás de uma bola. Disseram que até um smartphone vagabundo possui alternativas de entretenimento mais interessantes que isso. Disseram que somos constantemente manipulados e alienados pela mídia! PELA MÍDIA! (*exasperou-se). Esperem até Galvão Bueno ficar sabendo disso, americanos! Esperem até Luciano Huck ficar sabendo disso, seus criminosos devoradores de bacon! Lembrem-se de que a devoção doentia de um norte-coreano por seu ditador foi conseguida graças à TV Estatal norte-coreana; já a devoção doentia que nós, brasileiros, temos por futebol, cachaça e carnaval, foi conseguida graças à décadas consecutivas de fidelidade e submissão total à Rede Globo!”

 Ovações frementes e ensurdecedoras.

 O Sr Ernandes passa a palavra para Fredisnaldo que, antes da ocupação americana, era pastor evangélico. No breve percurso até púlpito, Fredisnaldo arrematou sete carteiras, e metade de um X-salada, que retirou da boca de uma senhora paraplégica num piscar de olhos.

-“Pouco tempo atrás, eu era pastor evangélico, meus irmãos. E, como todo pastor evangélico que se preze, tenho um nome escroto, que não me confere a menor credibilidade, e que também indica que meus pais não receberam nenhuma educação. Sabe, era fácil prosperar como pastor; era sim. Quase me tornei sucessor de Edir Macedo! Ora, tem coisa que o brasileiro gosta mais do que enriquecer gente ignorante, gente que tenta compensar a falta de cultura e talento, com a boa forma física, com o carro que possui, com um carisma fingido, e que diz exclusivamente aquilo que gostaríamos de ouvir? Caso contrário, o quê seria do PT, das celebridades nacionais, da música brasileira e de nossos filhos baladeiros?
Bom, de repente, vieram os americanos, estes arautos de Satã. Fui proibido de extorquir empregadas domésticas e pedreiros. Não pude mais pregar a humildade, vestido com meu terno italiano bordado com fios de ouro. Não pude mais assistir matronas de periferia se humilhando em nome de Jesus, enquanto eu permanecia confortavelmente instalado numa poltrona reclinável, tomando suco de acerola, e morrendo de rir por dentro. Um destes estrangeiros me rotulou de Colossal Piece of Shit, e eu nem sei o que é isso. Deve ser a língua do Tinhoso, do Inimigo, do Chifrudo!”

O ex-pastor Fredisnaldo sai do palco, não sem antes de recolher as notas de cinquenta e cem que lhes eram arremessadas por empregadas domésticas e pedreiros que, banhados em lágrimas de emoção, lembravam com saudade a época anterior à invasão, época em que ser enganado era tão bom quanto não percebê-lo.

   CONTINUA...

Status – Bored’n tired; I need money.

Lendo – “Barulho infernal: a história definitiva do heavy metal”

Recomendado – “A epopéia de Gilgamesh” (Anônimo). Que venha agora o Enuma Elish.

Recomendado – Funny stuff! Time 2 remember a classic:

https://www.youtube.com/watch?v=2rqsBh9vPv0

Escutando – Another musical mix! Hell yeah:

Mais um novo clipe/single do novo CD:

https://www.youtube.com/watch?v=Ghvg0wftEnc

Novo clipe/single:

https://www.youtube.com/watch?v=wnpEoYU02iE

Falta pouco para que eu reproduza as cenas vistas neste clipe...

https://www.youtube.com/watch?v=eXIdm_2NNyk

...e, claro, uma baladinha (esta, bem manjada):

 https://www.youtube.com/watch?v=CjRas1yOWvo

PS - Retrato fidedigno da justiça brasileira (By N.S):

Lula: -“Companheiro, será que eu POSSO ser preso agora?”
Justiça brasileira: -“Não enche, Lula!”
Lula (lacrimejante): -“O que mais eu preciso fazer para ser preso? Estuprar uma idosa paralítica?”
Justiça brasileira: -“Chega, Lula! Que saco, meu!”
Lula (já afogado em lágrimas e com a voz embargada pela emoção): “Mas eu quero MUITOOOO!!! Deixa, vai? POR FAVOOOOOR!!!! Snif.
E nossa crudelíssima justiça nada faz. Tadinho do menino. Ô judiação.