Incoerência ou morte – A Special nonsense post (Created and written By Nizi Silveira)
-O fiel leitor Anônimo exigiu-me mais um post nonsense.
Abaixo, o primeiro post nonsense realista deste blog. Sem dúvidas, um de meus
melhores posts.
A Avenida Paulista nunca recebeu tanta gente. A súbita e
abrupta (*embora eu duvide que algo possa ser súbito sem ser abrupto) onda de
protestos contra a coerência tomou conta do Brasil, após a invasão dos EUA, em
2029. Eu, Nizi Silveira, correspondente de guerra amador, e amador de guerra
profissional (amo guerras), decidi averiguar. Munido de um bloco para anotações
(facilmente encontrado nos supermercados Makro. Pensou bloco para anotações?
Pensou Makro), uma caneta altamente colecionável (muito, muito mesmo) e um
micro-gravador tão portátil quanto paraguaio, parti para a Paulista com a
velocidade de um puma à bordo de um Porsche armazenado no bagageiro de um
foguete. Tão logo cheguei, comecei a recolher depoimentos.
Uma idosa, aparentando o mais extremo ódio (com flocos
crocantes de raiva), aos soluços, confessou:
-“Não aguentamos mais, moço! Algum gringo canalha decidiu
sair por aí dizendo que é impossível ter talento sem ter estudo! Disse que ter
talento é possuir a capacidade para fazer coisas que os outros não conseguem.
Disse que não existiriam escolas se não fosse por causa dos livros! Disse
também que amar um filho significa cuidar de um filho, e cuidar de um filho
significa ensinar um filho... Gringo maldito! Eu sou evangélica, sabe? Gente
ruim assim não entra no Paraíso não”.
A idosa, chorando copiosamente, tão fragilizada quanto
alguém que se vê forçado a reviver um estupro, só que, desta vez, com cacos de
vidro dentro dos sapatos e equilibrando um balde de amoníaco sobre a cabeça,
afastou-se. Minutos depois, retomei minha marcha lenta e-mail à multidão.
Uma jovem bem gostosinha, de aproximadamente 19 anos, três
meses, oito dias, vinte horas e treze minutos (perdoem a imprecisão; não
reparei na fulana tanto quanto deveria), subiu num palanque improvisado com
bolachas champanhe e, enristando um mega-fone, dirigiu estas palavras ásperas,
ríspidas e cáusticas àquela multidão sedenta por incoerência:
-“Estes americanos estão tirando o nosso direito de ser
imbecil. O que será deste País? O que será de meus conterrâneos quando não mais
puderem ficar embasbacados com qualquer merda? Querem me proibir de ficar
fascinada com qualquer bostinha que não canta nada, não compõe nada, e nem toca
nada? Querem que não mais elejamos metalúrgicos analfabetos para altos cargos
administrativos? Por quê? Só porque nem mesmo um boteco de favela o contraria?
Só por isso? Querem que nós, mulheres, sejamos capazes de definir o que é um
otário? E o quê será da violência contra a mulher quando isso acontecer? Então,
eu não posso mais ser fútil e cretina o suficiente para me relacionar com um
débil mental, apenas por tê-lo achado gostoso? Não tenho o direito de virar uma
mãe solteira, usada e abandonada? Estão achando que eu sou o quê? Por acaso uma
mulher poderosa precisa entender o que sai da própria boca? Ridículo. Por isso,
eu digo: Incoerência ou Morte!”
O grito “Incoerência ou morte”, repetido pela multidão
extasiada, foi ensurdecedor. Um homem de meia-idade, com a bandeira nacional
enrolada no corpo, tão inconformado quanto alguém que ganha um ingresso-replay
para assistir ao genocídio de minorias curdas, disse-me, enquanto batia com uma
colher de pau na própria cabeça:
-“Eu tenho dois filhos, moço. Outro dia, meu filho mais
velho saiu da sala no meio de um jogo do Corinthians, e foi ler Platão. Fiquei
P da vida, moço. Ignorar o time mais importante da história de Itaquera, veja
bem, da HISTÓRIA de Itaquera, que é um dos lugares mais lindos de Itaquera,
para ficar engolindo aquela babaquice útil e cheia de lógica! Nossa juventude é
alienada demais, moço; este é o problema. Não existe mais aquele respeito,
aquele temor pelo Corinthians. Não existe mais aquela paixão ardente pelo
Corinthians, aquela vontade louca de sair chupando aqueles onze Uésleis em
campo. Aquela vontade de gritar Corinthians, eu sou teu; faz de mim o que
quiser. Me deixe sentir teu jorro quente na minha garganta, Corinthians! Pare
de me fazer gritar, e me faça gemer por ti, Ó Corinthians! É isso que tá
faltando nesta juventude alienada, moço. Só se constrói um país com
Corinthians, já dizia meu pai”.
Fingi compreender e
me afastei. Foi a vez do depoimento de uma mulher com uma criança de colo:
-“É o fim, meu rapaz! Se esta tentativa ridícula de
transformar o brasileiro em gente racional der certo, nunca mais vou poder
colocar filhos no mundo para sofrer com a miséria, a ignorância e a violência!
Sem isso, o que será do tráfico de drogas, do rap, do funk e da prostituição?
Será que ninguém percebe? Ah, meu Deus...”.
Depoimento de um marombeiro presunçoso:
-“Eu sou macho, porra! De repente, surgem estes gringos veadinhos
exigindo coerência... Querem que eu leia... Hahaha. Trocar a academia, a
qualidade do MC Chuleta e da dupla Péterçom & Maico por LIVRO!!! Tá de
brincadeira mesmo... Fique você sabendo que eu perco discussões sobre qualquer
assunto, até mesmo para menininhas de colégio, rapá! Aqui tem macho, porra! Eu
sou adulto, caralho!”.
Depoimento de uma
adolescente, acompanhada pela mãe:
-“Na boa, se coerência fosse algo bom, estaria na moda. Até
parece que a moda é criada por agências publicitárias que só querem pegar nosso
dinheiro. Morte à coerência! Até parece que um adulto que não consegue redigir
uma redação é um imbecil... Minha mãe me disse para só ouvir pessoas incapazes
de expor as próprias opiniões por escrito; fazendo isso, eu posso virar mãe
solteira aos catorze anos. Tá, meu namorado pode até ser zuado e ter cara de
Raimundo, mas, em compensação, ele é incapaz até mesmo de escrever uma redação
de dez linhas. Muito top, meu! Ainda bem, né? Odiaria descobrir que estou
pagando de palhaça”.
Depoimento de um executivo engravatado:
-“Eu sou um profissional, afinal, visto terno. Ninguém me
disse que eu precisaria de conhecimento, domínio de outros idiomas, leitura e
coerência para ser um profissional. Isso é um abuso; um desrespeito ao meu
profissionalismo. Em outras palavras, é um desrespeito ao meu terno, minha
gravata, e meu Toyota Corolla. Exijo respeito, afinal, veja só, estou de terno”.
Após ter registrado estes depoimentos, um dos organizadores
da M.C.C (Marcha Contra a Coerência), me informou que o próximo protesto será
contra o aumento da tarifa viária. Ao perceber minha estranheza,
tranquilizou-me:
-“Calma, rapaz. Eu sei que protestar contra o aumento da
tarifa é algo racional e coerente (*fez cara de nojo ao pronunciar esta
palavra). Mas, a principal estratégia de um autêntico incoerente é fingir que
faz sentido, e acreditar que tem razão”.
Respondi-lhe que não havia entendido nada, só para poupá-lo
de ter de explicar novamente.
Status – Kinda cool.
Away 4 a brief while.
Lendo – Barulho infernal: a história definitiva do heavy
metal ”(Jon Wiederhorn & Katherine Turman).
Lendo – “A epopéia de Gilgamesh” (Anônimo). Um dos primeiros
livros da história da humanidade.
Recomendado – “Mussolini” (Chistopher Hibbert). Uma concisa
biografia de um dos déspotas mais bunda-moles da história – and thank God for
it.
Recomendado – Agora, um de meus maiores ídolos em ação:
https://www.youtube.com/watch?v=OFE0BMG6hww
Escutando – Yup; another musical mix! Dedico o mix musical
de hoje aos poucos brasileiros genuinamente heterossexuais que, portanto, não
têm tempo para perder com joguinhos de bola e musiquinhas para donas de casa do
Terceiro-mundo:
Anunciaram
recentemente que lançarão um último CD. Imortais.
https://www.youtube.com/watch?v=hV2ideRjDIk
Novo clipe/single (que conta com a mui-prestimosa
participação de Kiko Loureiro):
https://www.youtube.com/watch?v=bK95lWHl7js
Uma faixa do último CD. Funny shit:
https://www.youtube.com/watch?v=0ye5tXr14RM
...e, claro, uma baladinha (bem manjada):
https://www.youtube.com/watch?v=unHzLEA6gvI
PS – Adendo: O feriado pelo aniversário da cidade de São
Paulo foi idealizado pelos militantes do M.C.C (Marcha Contra a Coerência). A
idéia original era exigir um feriado para lamentar a existência desta cidade,
mas tal idéia foi rejeitada e rotulada como “coerente demais” (By N.S).
PS – Chega deste pessimismo provocado pela crise atual! A
lógica me diz que o Brasil não pode dar errado, mesmo porque, ele nunca deu
certo (By N.S).
PS – Uma dica: Você, mulher brasileira, já deve ter se
relacionado com carinhas de 30 anos, de cabelo espetado, que adoram baladas,
não lêem nada, e só conhecem futebol e Domingão do Faustão, certo? Agora,
inove! Experimente se relacionar com um homem de 30 anos para ver se gosta! (By
N.S).
PS – Entendo que o heavy metal pode desagradar algumas
pessoas. Porém, veja pelo lado positivo: ele, pelo menos, cruzou fronteiras.
Pergunte ao cantor Roberto Carlos (para muitos, o maior artista brasileiro)
quantas turnês européias ele fez na vida... A resposta dele te fará rir, e rir
faz bem (By N.S).